Os gastos com plano de saúde costumam figurar entre os mais pesados, mas também entre as prioridades para as famílias. Com a pandemia, a preocupação em garantir a assistência médica na rede privada parece ter sido um ponto importante. De três planos de saúde consultados pela reportagem em Caxias do Sul, apenas um teve redução do número clientes. Outro registrou estabilidade nos números, e um terceiro conseguiu incrementar a clientela. Isso em um cenário de retração da economia. No entanto, a dificuldade em manter o serviço cresce após a aplicação do reajuste que ficou suspenso em 2020.
As operadores foram autorizadas em novembro pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a diluírem em 12 meses, a partir de janeiro de 2021, o reajuste anual e por faixa etária, que ficou suspenso entre setembro e dezembro. Com o início da cobrança, a conta do plano da auxiliar de contabilidade Denize da Rosa, 59 anos, saltou de cerca de R$ 700 em 2020 para R$ 1.065 em janeiro deste ano. O valor atual, que está próximo do salário mínimo, hoje em R$ 1.100, faz Denize planejar a desistência do pagamento do plano, que usa há décadas:
— Provavelmente, vou pagar mais esse mês e depois não tenho mais condições de continuar pagando. Vou pesquisar outros planos, mas provavelmente vou ter que parar com esse negócio — comenta.
Quem também viu o gasto com a saúde aumentar significativamente de um mês para outro foi a empresária Liana Buffon Laurindo, 54. Em 2020, na tentativa de reduzir esse gasto, ela migrou de um plano de pessoa física para um de jurídica. Conseguiu baixar o preço de R$ 700 para R$ 600. No entanto, foi surpreendida na atual cobrança com o aumento de R$ 200. A empresária quer buscar uma renegociação junto à operadora, mas caso não consiga, projeta migrar para um concorrente mais barato, ainda que a assistência seja menor.
— Eu tenho esse plano há mais de 30 anos e os aumentos cada vez a gente sente mais. A gente tem a vida inteira um plano, já tem os médicos (de referência), a mudança é só em último caso — conta.
O cenário dos planos de saúde
Apesar da crise econômica desencadeada de forma mais forte pela pandemia, o cenário para os planos de saúde em Caxias do Sul se apresentou de maneira diversa. A maior operadora, com 205 mil beneficiários, manteve os números praticamente estáveis. Segundo o superintendente de Mercado da Unimed Nordeste-RS, Carlos Eduardo Corá, os primeiros meses de pandemia levaram a uma maior saída de beneficiários de planos empresariais devido às demissões. No entanto, conforme ele, depois houve uma compensação devido à contratação por parte de outras empresas e nas carteiras de outras modalidades de planos, como a individual ou os coletivos por adesão. De acordo com o superintendente, a operadora também adotou estratégias voltadas à manutenção da clientela, como um plano com preços mais baixos e negociação para manter os contratos em caso de alguma dificuldade específica.
— Apesar da redução inicial do emprego, devido à pandemia, acredita-se que os clientes tenham priorizado a manutenção de seus atuais planos de saúde.
As condições encontradas pelo Círculo Saúde em 2020 foram ainda mais favoráveis. O plano, com 130 mil usuários atualmente, conseguiu crescer mesmo com as dificuldades econômicas enfrentadas no país. A operadora fechou 2020 com crescimento de 6% na cartela de clientes. O diretor de Mercado do Círculo Saúde, Vagner Barela, credita o bom resultado a uma série de ações, como facilitação nas formas de pagamento — por exemplo, redução no custo do plano de saúde, mas com uma coparticipação maior no momento do atendimento —, além de investimento na expansão da rede de atendimento e parceria com entidades que fornecem preços mais competitivos ao usuário:
— Inúmeros foram os esforços do nosso time comercial de fazer um trabalho de retenção. Tivemos evasão em maio, devido ao lockdown em abril, e foi um cenário desafiador, mas conseguimos fechar em saldo positivo — comemora.
No outro extremo, o Fátima Saúde, com cerca de 50 mil clientes, registrou uma redução na quantidade de beneficiários na ordem de 3,5%, em um movimento de perda constante entre março e dezembro. O impacto da pandemia sobre a operadora se mostrou mais forte mesmo com a oferta de planos com preços mais acessíveis e o lançamento de um modelo voltado exclusivamente para pessoas acima dos 49 anos em 2019. Além disso, o Fátima segurou reajustes para empresas pequenas e na coparticipação dos usuários, para tentar conter a saída de beneficiários. O diretor-geral da operadora, Roberto Zottis, conta que as perdas foram mais significativas nos contratos coletivos, tanto empresariais quanto por adesão.
— Com os efeitos da pandemia sobre o cenário econômico, o fechamento de empresas e redução nos quadros de pessoal, as demissões geraram uma evasão dos planos de saúde coletivos. Mesmo com a opção da manutenção através de contrato individual/familiar, a condição da grande maioria não permite o investimento em plano de saúde nesse período — afirma.
Os quadros apresentados pelas operadoras envolvem não só a população caxiense, porque eles atuam também em outros municípios. Quando se analisa os números apenas do município mais populoso da Serra, encontra-se um movimento de retração e recuperação de clientes ao longo de 2020. Os dados da ANS mostram que em dezembro de 2019 eram pouco mais de 238 mil usuários, assim como em dezembro de 2020. No entanto, os planos sofreram perdas nos trimestres fechados em junho e setembro. Neste último mês, foi quando houve o menor número de beneficiários no período analisado: 232 mil.
Reajuste
De acordo com a ANS, o percentual máximo de reajuste dos planos individuais ou familiares contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº 9.656/98 ficou estabelecido em 8,14% e é válido para o período de maio de 2020 a abril de 2021. https://especiais.zh.clicrbs.com.br/ferramentas/gerador-tabelas/index.html?EW=700&EH=500&url=1ntusEKZO_Q-pl7v_nWhWr729IsBjLxmn37en-_tUVuY&labels=Per%C3%ADodo_Usu%C3%A1rios&columns=r1%20r2&title=N%C3%BAmero%20de%20usu%C3%A1rios%20de%20planos%20de%20sa%C3%BAde%20em%20Caxias&subtitle=%20&cor=zh-azul&willsort=-1&fonte=Fonte%3A%20ANS&EI=EnterIframeMan_1613577127541_049790761170327635&chamador=https://gauchazh.clicrbs.com.br/pioneiro/economia/noticia/2021/02/familias-caxienses-mantem-planos-de-saude-mas-aumentos-autorizados-em-2021-dificultam-permanencia-ckl9jqvie0036019wq8bkccvc.html
Fonte: Pioneiro